CARNAVAL
 
Em fevereiro de 1923, já comemorava-se o carnaval em Ribeirão Vermelho. A festa dos três dias de Momo, acontecia no Largo da Matriz, onde à tarde, almofadinhas e senhorinhas concentravam-se para a "lançadeira", cantando os primeiros sambas épicos. À noite, os bailes de domingo, segunda e terça-feira, aconteciam no Cine Teatro-Paz. Eram pierros, palhaços, dominós, colombinas e ciganinhas que ao envolver de serpentinas, espantavam para longe as tristezas e se esqueciam das aflições da vida.
Assim permaneceu por um bom tempo, até que começaram a surgir os primeiros "blocos", entre os quais temos conhecimento da existência em 1930 na Arranchação, do bloco "Fala De Nós Quem Tem Paixão", com instrumentos de cordas, sopro e percussão.
Com a construção do Centro Literário Governador Valadares na rua Francisco Rocha em setembro de 1942, as tardes carnavalescas de Ribeirão Vermelho ganharam nova animação, pois, com a instalação do alto-falante, os foliões começaram a concentrar-se em suas proximidades, mas, à noite, os bailes continuavam no Cine Teatro-Paz e, no final desta década, começavam a aparecer os blocos caricatos, entre eles, o "Bloco dos Caveiras" e o "Bloco dos Piratas".
Ainda na primeira metade da década de 60 começam a aparecer os envolventes blocos de batucadas com instrumentos somente de bateria, principalmente a caixa de couro confeccionada pelos próprios foliões e a frigideira de cozinha.
Por outro lado, o bloco "Ardência" que surgiu timidamente por volta de 1963 com um grupo de estudantes ribeirenses, assíduos frequentadores do Bar da Beatriz Borges na Avenida 26 de Novembro, durou até o início da década de 70 que, com a morte de Mário Marques, que tornou-se uns dos principais incentivadores do bloco, foram seus instrumentos passados para a formação do Bloco da " Fala Quem Quer".
Dessa forma, a partir de 1969 quando alguns rapazes de Barra Mansa passaram a participar do carnaval de Ribeirão Vermelho, trazendo o "Bloco da Pesada" onde vários ribeirenses também participavam, começam a se organizar as Escolas de Samba de Ribeirão Vermelho.
 
Fala Quem Quer
 
Ao findar a época do " Bloco da Pesada " e desfeito o bloco " Ardência", nasce em 1972 a Escola de Samba Fala Quem Quer, que sendo a pioneira, muito ajudou e colaborou no aparecimento de novas escolas de samba em Ribeirão Vermelho.
Foram seus fundadores os rapazes ribeirenses Ademar da Silva Rif , Djalma do Nascimento, Flávio Corrêa Rocha, Joana D'arc do Nascimento Assis, José Carlos Zegrini, João Batista do Amaral e Tânia da Silva Rif.
 
Unidos da Parte Baixa
 
A Escola de Samba Unidos da Parte Baixa foi fundada em 10 de fevereiro de 1975 e tem sua formação derivada do "Bloco do Sugismundo", onde na "rua do Matadouro", parte da mocidade ribeirense se concentrava nos dias de carnaval. Posteriormente, após a sua oficialização através dos rapazes Cláudio Célio dos Santos, Hemerson Jader Cunha, Marco Antônio Silva e Gilmar Ramos Rodrigues, a UPB passou a concentrar-se na rua Abilio Rodrigues Patto, onde aconteciam seus ensaios, próximo ao campo do Ferroviário, na residência de D. Tiliva que sendo uma pessoa muito agradável, praticamente transformou sua casa em sede da escola.
Em 1978 foi organizada sua primeira diretoria que assim ficou constituída: Presidente - Orlando Barbosa, Vice Presidente - Ernane Silva, I, II e III° secretários Maria Auxiliadora dos Santos, Custódio Rodrigues e Silvio Edson Ramos, I, Irel tesoureiros - Maria Madalena Alves, João Possato e Vicente de Paula, Diretores de Patrimônio - Marco Antônio Silva, Hemerson Jader Cunha, Cláudio Célio dos Santos e Gilmar Ramos Rodrigues, Diretoria Artistica - Maria Moreira Gianne, Lourival Filordi, Zeny Caldeira Patto e Antônio Sanábio, Conselho Fiscal - Heloisa Theodoro Caresia, Gabriel Marcelino, Leila Maria de Oliveira, João da Gama, Glênia Goulart de Paula, Neuza Maria da Silva, Jader Cunha, José Ramos, Hélio Marçal Cruz, Maria de Lourdes de Gama e Fátima da Gama.
Os Piratas
 
A Escola de Samba Os Piratas foi fundada por José Carlos dos Santos em 21 de janeiro de 1977 em sua residência à rua José Gonçalves na Arranchação, ano em que começou a apresentar no carnaval de rua de Ribeirão Vermelho.
Até então, os rapazes daquela rua no carnaval, faziam batucadas ali por perto e, estando trabalhando em Volta Redonda, José Carlos passou a mandar latões de carboreto para fazer "surdos", o qual seu pai Sr. Geraldo Messias dos Santos ia confeccionando com a ajuda dos rapazes e do cabo Custódio que fazia os arcos de madeira.
Aos 12 de fevereiro de 1978, foi organizada a primeira diretoria da Escola de Samba Os Piratas que assim ficou constituída: Presidente - José Carlos dos Santos, Vice-Presidente-Geraldo Messias dos Santos, I° e II. Secretários - Rogério Messias dos Santos e Angelina das Dores, I e II. Tesoureiros - Íris Gorgulho Nogueira e Rogéria Alcântara dos Santos, Diretor Social - José Ferreira Filho, Procuradores - João Geraldo Batista e Vicente Batista, Conselho - Vicente de Paula Balbino, José Carlos de Almeida, Moacir dos Santos, João Bosco dos Santos, Donizeti Gomes, Geraldo Vicente Epitácio, José Frederico da Silva, Márcio de Oliveira e Sebastião de Oliveira.
Em toda sua existência, Os Piratas tiveram quatro presidentes distintos: José Carlos dos Santos, José Geraldo Cândido, Izidoro Lopes de Almeida e Roberto Carlos Venâncio.
A Escola de Samba os Piratas, com seu ritmo forte e característico foi a única escola de samba que desde a sua fundação sobreviveu ativamente ao carnaval de rua de Ribeirão Vermelho. Com todo esforço e simplicidade, aos longos desses anos apresentou acima de tudo a união de sua comunidade na hora da alegria.
 
Cruzeiro da Alegria
 
A Escola de Samba Cruzeiro da Alegria tem sua origem atribuída ao bloco "Balança Mas Não Cai" que teve como organizadores o rapaz Nilvaldo da Silva Monteiro e as Sras Nelza Simplicio Theófilo e Gearmantina Ferreira da Silva.
Com a finalidade de incrementar e desenvolver o carnaval ribeirense dentro dos bons princípios do espírito fraternal, a comunidade do Alto Cruzeiro reunida em 11 de fevereiro de 1978, transformou o bloco "Balança Mas Não Cai" em Escola de Samba Cruzeiro da Alegria, e para isso organizaram sua primeira diretoria: Presidente - José Nogueira de Carvalho, Vice Presidente - Magno Medeiros de Souza, 1° e II° Secretários - Mauricio Ricardo Troca e Carlos Antônio Fernandes, I° e II° Tesoureiros - Wagner Marques e Adolfo José Sanábio, Relações Públicas - Osmar de Carvalho, Diretores e Mestre de Bateria - Nivaldo da Silva Monteiro e Ivaldo da Silva, Diretoras de Alegoria - Gearmantina Ferreira da Silva, Neuza Simplicio Theófilo, Sara Rosse, Maria Aparecida Barbosa e Maria Luiza Fernandes, Conselho Fiscal - José Ferreira Fernandes, Sebastião Antônio da Silva, Julibel Rosse, Divino Gualberto Ribeiro e Antônio Borges.
Em 1979, levando a sua mensagem, a Cruzeiro da Alegria desfilou pela primeira vez apresentando a réplica do "Vapor" de Ribeirão Vermelho, crenças e demais personagens do folclore brasileiro.
A Cruzeiro da Alegria na década de 80, deixou de fazer alguns desfiles, assim como na primeira metade da década de 90, voltando em 95. Foram seus presidentes atuantes: José Nogueira, Neuza Simplicio Theófilo, Jesuina Maria Fernandes, Edson Guimarães Patto, Valdeck Cândido dos Santos e Flávio dos Santos.
Com o surgimento destas escolas de samba, a partir de 1979, o carnaval de rua passou a ser organizado na Avenida 26 de Novembro, pois, até então, a tradicional festa acontecia na Praça Governador Valadares, em meio a Gatinhos Sem Rabos, Mulinhas, Gorilas e outras espécies de mascarados.
Era o início de uma "nova era" do carnaval ribeirense. Apoiados pela população em geral, os dirigentes das escolas de samba trabalhavam duro o ano inteiro, promovendo viagens de turismos, festivais de refrigerantes, bailes, barraquinhas, rifas, etc., com o propósito de arrecadar fundos para garantir um carnaval belo em sua plenitude.
Ao findar as festas de fim de ano, entrava o mês de janeiro, e naturalmente, a ansiedade vinha à flor da pele. Em absoluto sigilo, chegava a hora de "provar" as fantasias feitas com muito carinho pelas anônimas costureiras, chegava a hora de conferir os mínimos detalhes e poucos tinham acesso aos carros alegóricos.
Em quatro cantos da cidade, ouvia-se o palpitar dos tamborins, repeniques e tambores. Na rua, o povo começava a se soltar, e ao conferir os ensaios, teciam comentários, proporcionando um clima de expectativa.
A avenida tornava-se o centro maior das atenções: luzes, refletores, cordão de isolamento, até arquibancadas chegaram a ser construídas, e juntos, a multidão, que nesta ocasião parecia triplicar-se.
As escolas "Fala Quem Quer" e "UPB", por várias vezes foram convidadas a fazer apresentações em Lavras, Perdões, Arantina, Cristais e Oliveira, apresentando-se com mais de 300 componentes cada uma e, a "Cruzeiro da Alegria" e "Os Piratas" com mais de 130 componentes, tal o volume e o interesse participativo.
Durante a semana próxima do carnaval, o "Barra Mansa" diariamente cruzava a Mantiqueira superlotado, conduzindo vários ribeirenses entre outros visitantes, que moravam no Estado do Rio, principalmente em Barra Mansa e Volta Redonda
Como costume, após a apresentação das escolas de samba, a festa continuava nos clubes "Governador Valadares" e "Social Ribeirense", onde aos sons dos grupos musicais próprios de Ribeirão Vermelho, a multidão cantava brincando na explosão da alegria.
Já no final dos anos 80, as quatro escolas de samba começam a sofrer as dificuldades, pois, o luxo e a riqueza de suas alegorias associados a vários dissabores, tornaram-se insustentáveis.
O declinio das escolas de samba de Ribeirão Vermelho abalou profundamente o carnaval ribeirense e com elas, cairam os matinês e os bailes de salão.
A partir de 1990, a música mecânica assim como aconteceu em todo lugar, passa a imperar no carnaval de rua, e com isso surge o" Bloco Sassarico" com o propósito de preservar os costumes ribeirenses através de suas músicas, enredos e alegorias, que em 1995 ao homenagear as quatro escolas de samba de Ribeirão Vermelho, apresentou o enredo Marcha Para As Cinzas de Um Carnaval cantando a necessidade de uma nova edição do carnaval dos anos 70/80.
 
Fonte: Márcio Salviano Vilela - Sobre Trilhos - 1998

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Alessandro de Castro Alonso