Funeral do Sr. Joaquim Pereira dos Santos Braga, de nacionalidade portuguesa e emérito cidadão ribeirense. 1911

O povoamento do município de Ribeirão Vermelho tem sua origem associada a dois importantes aspectos sócio econômicos implantados no final do século XIX, no então município de Lavras, ambos relacionados diretamente com a comunicação e o meio de transporte, ou seja, a Navegação do Rio Grande e a chegada dos trilhos da Cia. Estrada de Ferro Oeste de Minas.

A Navegação do Rio Grande teve seus estudos preliminares iniciados em 1850 pelo Dr. José Jorge da Silva, Agente Executivo de Lavras, que propôs ao Governo da Província de Minas o estabelecimento de uma navegação no Rio Grande, começando na barra do ribeirão Vermelho, margem esquerda do Rio Grande e afastada de Lavras a aproximadamente 8 Km. Porém, o objetivo de explorar dezenas de léguas com a navegação do Rio Grande, só veio acontecer quando o Cônego Joaquim José de Sant’Ana, Comendador da Ordem de Cristo e Vice-Presidente da Província de Minas Gerais, decretou a Lei N.º 2.754 de 18 de dezembro de 1880, concedendo ao Dr. José Jorge da Silva, ou a empresa que ele organizasse, pelo prazo de cinco anos, a subvenção de 5:000$000       ( cinco mil contos de   réis ) anuais para a exploração da navegação do Rio Grande no trecho entre a barra do ribeirão Vermelho  e a Cachoeira da Bocaina ( Capetinga ), no município de Piumhi, numa extensão de 208 Km rio abaixo. Compondo-se de um vapor e dois lanchões de madeira destinado ao serviço de reboque e um saveiro de ferro para cargas e passageiros, a Navegação do Rio Grande teve começo regular em Fevereiro de 1881, com uma viagem semanal de ida e volta, constando o movimento de exportação e importação de café, fumo, açúcar, sal, couros, queijos, cereais, condimentos, etc., além de passageiros.

A este tempo, com a implantação da Navegação do Rio Grande, forma-se o primitivo povoamento em razão do centro comercial organizado a margem do rio e surge a denominação de “ O Porto Alegre ”, primeiro nome de Ribeirão Vermelho, que se estendeu até 26 de novembro de 1889, quando por decreto a localidade oficialmente passou a chamar-se “ Estação do Ribeirão Vermelho ”.  O estabelecimento desta navegação, entretanto, num percurso de mais de 200 km, constituiu, igualmente, assunto de interesse da Cia. Estrada de Ferro Oeste de Minas  pelas grandes vantagens que ela poderia obter, por se tratar de uma zona banhada por um mesmo rio, de terras ubérrimas e ricas matas, sem vias de comunicação rápida e barata.  Assim, procurando meios para seu desenvolvimento, uma vez que a região percorrida era falha de recursos, por ser pouco habitada, a Cia. Estrada de Ferro Oeste de Minas pensou em prolongar suas linhas, tratando logo de adquirir a concessão, então existente, de uma estrada de ferro que partindo de São João del Rei, se dirigisse a Oliveira, com um ramal para o  “ Porto Alegre ” auxiliando a emigração para a zona percorrida pelos 100 Km, cuidando da facilidade, presteza e barateza dos transportes para os mercados consumidores, certos de que por esses meios, a verdadeira prosperidade da Companhia viria pelo natural crescimento da população. Em 14 de abril de 1888 foi inaugurada, na margem direita do Rio Grande, a Estação de Ribeirão Vermelho, na ocasião, com o nome de Estação de Lavras, e com a libertação dos escravos, consuma-se o avanço dessa estrada de ferro, sendo em pouco tempo aberto ao público o tráfego. Pouco a pouco foram chegando os materiais para a construção  de novos vapores e lanchas, e organização de uma navegação por conta da Cia. Estrada de Ferro Oeste de Minas que obteve privilégio exclusivo por 10 anos para a respectiva exploração, da foz do ribeirão Vermelho até Capetinga.  Com a Proclamação da República, o governo federal resolve cancelar as leis relativas às estradas de ferro, determinando a organização de um plano geral de viação férrea para conceder, então, licença as construções nele contempladas, ocasião, em que a Cia. Estrada de Ferro Oeste de Minas levou adiante o intento de expandir suas linhas acima de Ribeirão Vermelho até a cidade de Catalão no Estado de Goiás, e de Ribeirão Vermelho até a cidade de Barra Mansa na Central do Brasil.

Nesta época, Antônio Francisco da Rocha, Diretor da Cia. Estrada de Ferro Oeste de Minas, havia cogitado de realizar uma obra de grande vulto na região, centralizando uma parte da ferrovia em Ribeirão Vermelho. Com a inauguração da Estação ( 1888 ) e com os projetos de construção da Ponte Metálica ( 1892 ), Oficinas e Rotunda ( 1895 ), Cia. Agrícola e Industrial Oeste de Minas  ( 1897 ), e outras edificações em andamento, aparecem os trabalhadores e surgem os primeiros moradores de Ribeirão Vermelho, operários da Oeste de Minas, em sua grande maioria portugueses, que juntamente com os brasileiros, italianos e espanhóis, fixam residências, constroem casas, igrejas e clubes, abrem ruas, hotéis e escolas, estabelecem lazer, comércio e agricultura, iniciando a primazia sócio-econômica e cultural do arraial que se formava.

Com relação ao nome “ Ribeirão Vermelho ” conforme deixou registrado o jornalista Batista Caetano de Almeida ( 1797 – 1839 ), redator e impressor do jornal “ O Astro ” de São João Del Rei ( 1827 ) recolhido por Jacy de Souza Lima em “ Lavras do Ouro e das Escolas ”, 1968, sua origem figura desde o final do século XVII, quando após o ano de 1674 a bandeira de Fernão Dias Paes Leme cruza os sertões da Colina do Funil do Rio Grande. Localizado entre a Serra da Bocaina e as florestas do Rio Grande que deu lugar a cidade de Lavras, na rota das bandeiras, esta zona, serviu de palco para a violenta batalha entre os bandeirantes, desbravadores, caçadores de esmeraldas e os índios Cataguases, habitantes naturais desta região. Após o confronto armado, os corpos foram lançados neste “ ribeirão ”, que hoje corta a zona norte da cidade de Lavras, deixando suas águas avermelhadas pelo sangue derramado. Em razão desse acontecimento, o ribeirão, simbolicamente,  ficou conhecido como o “ Ribeirão Vermelho ”.

Entre 1900 e 1901, ocasião dos trâmites da criação do Distrito, dois nomes foram cogitados para a localidade da Estação do Ribeirão Vermelho: o primeiro seria “ Cidade D’Oeste ”, conforme era plano de Antônio Rocha para substituir o lugar chamado de Porto Alegre; e o segundo “ Emiliópodes ”, quando durante a criação do distrito pretendiam fazer da localidade uma cidade moderna, a qual os membros da comissão desistiram da denominação e preservaram, assim, o nome “ Ribeirão Vermelho ” que permanece aos dias atuais.  Com relação a evolução-política o município de Ribeirão Vermelho que originou da instalação da Navegação do Rio Grande na barra do ribeirão Vermelho e ganhou forte impulso com as atividades da ferrovia que ao longo dos anos foi a principal base de sustentação da economia local, a princípio, nasceu do município de Lavras, mas em território de Perdões, que no início do século XX já era distrito de Lavras, cujas divisas naturais limitavam-se ao Rio Grande.

A ocorrência do povoamento no decorrer de poucos anos, entretanto, promoveu o aparecimento de problemas de ordem social, entre os quais destacam-se como mais emergentes a falta de escolas para a alfabetização de centenas de crianças, construção de um cemitério e autoridades policiais para velarem a paz e a segurança do lugar, constantemente concorrido de passageiros que afluíam de todas as partes. A localidade contando com seus quase 20 anos e com  um rápido crescimento passou a aspirar o desejo de independência através da criação do Distrito de Ribeirão Vermelho que foi alcançado  pela Lei N.º 315 de 12 de setembro de 1901, decretada pelo Presidente do Estado de Minas Gerais, Dr. Silviano Brandão, sendo instalado aos 9 de janeiro de 1902. Como importância a Criação do Distrito permitia a autonomia na arrecadação de impostos, a representação de um vereador distrital na Câmara Municipal de Lavras e a nomeação de uma junta executiva para a política local. Todavia, a organização  administrativa distrital geralmente dispunha-se de Juizes de Paz, Conselho Distrital e Vereador Distrital, além da instalação do Destacamento Policial e Cartório.  Já no início da década de 40, surge o Movimento de Emancipação Político-Administrativa, sendo designada em 1942 uma comissão com a finalidade de articular tal propósito que veio a ser firmado após seis ano, quando em 27 de dezembro de 1948, o Governador do Estado, Dr. Milton Campos sancionou a Lei N.º 336 que criou o Município de Ribeirão Vermelho, estabelecendo a divisão administrativa e respectivos limites municipais, sendo instalada a Prefeitura Municipal de Ribeirão Vermelho em 1º de janeiro de 1949. O povo de Ribeirão Vermelho nesta data viu transformar em realidade, o seu velho sonho de governar a si próprio. Curiosamente, era de se estranhar que Ribeirão Vermelho não fosse ainda cidade, quando muitos conglomerados, infinitamente menores, já gozavam de foros citadinos. Essa estranheza tanto era dos ribeirenses como de todos aqueles que passavam pela localidade, admirando as ruas bem traçadas e os elegantes prédios, apreciando o movimento comercial e surpreendendo-se com o ferroviário.

O município de Ribeirão Vermelho possui uma área  de 40,3 km2 e situa-se no Campo das Vertentes com coordenadas geográficas de 21º 11’ 26’’ de latitudes S e 45º 03’ 43’’ de Longitude W. Gr. a uma altitude média de 800 metros na Matriz de Nossa Senhora da Guia com subordinação judiciária à Comarca de Lavras e educacional à Delegacia Regional de Ensino de Campo Belo. A atividade agropecuária é desenvolvida por pequenos e médios produtores que plantam café, milho, fumo, feijão, hortaliças e criam gado de corte e leite.

Fonte: Márcio Salviano Vilela - Sobre Trilhos - 1998 / Ementários da História de Ribeirão Vermelho - 2003

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Alessandro de Castro Alonso