Erigidas pela empreiteira  anglo-brasileira Brazilian Contracts Corporation,  entre 1894 e 1897, as instalações das oficinas do Complexo Ferroviário de Ribeirão Vermelho  representavam a necessidade da companhia de expandir e modernizar seus serviços após a conclusão dos objetivo de alcançar o vale do Rio Grande. Com a sobrecarga e a localização deslocada das oficinas da Oeste em São João del-Rei, em serviço desde 1882, tornou-se imperiosa a necessidade de novas instalações, destinadas a atender a manutenção das locomotivas de bitola métrica da Estrada e o serviço de navegação a vapor, que aportava ali como sua parada final. 
    Quando de sua conclusão em 1897, as oficinas de Ribeirão Vermelho se destacavam como as mais avançadas  da  Estrada. Sua  construção  demandou  materiais inteiramente importados da Europa e técnica robusta, com telhas de Marseille, França, e conjunto de tesouras e esquadrias feitos sob medida na Escócia. Os maquinários, movidos a vapor, vinham dos Estados Unidos e do Reino Unido, como tornos, forjas, prensas mecânicas e hidráulicas, fresadoras e perfuratrizes, além de um moderno aparelho de soldagem a gás. Suas atividades, que demandavam centenas de operários, eram divididas em vários setores, destacando-se a caldeiraria, ferraria, fundição, forja, tinturaria, marcenaria, carpintaria, serraria de dormentes, conserva interna e externa, turmas de socorro, manutenção de pontes e via permanente, sendo a principal fonte de ocupação da mão-de-obra residente na povoação de Ribeirão Vermelho.
    Durante as três primeiras décadas do século XX, as oficinas se destacaram por seu setor de fundição, produzindo desde ferrarias para a construção de carros e vagões nas oficinas de Lavras e São João del-Rei até experiências na construção de locomotivas inteiras. No entanto, com a transferência do setor de fundição para as oficinas de Divinópolis, em 1935, as oficinas de Ribeirão Vermelho perderam protagonismo neste ofício. As sucessivas enchentes, que paralisavam as atividades no complexo por semanas, foram determinantes para que as operações nas oficinas fossem distribuídas entre outros depósitos da Rede Mineira de Viação (RMV), até que, em 1968, as atividades nas oficinas às margens do Rio Grande cessaram por completo. Suas instalações serviram como ponto de apoio para armazenagem e desmantelamento de locomotivas a vapor, vagões e carros de passageiros desativados nos próximos 20 anos, até a grande enchente de 1992, quando ás águas cobriram as instalações em uma cheia que superou o nível da inundação de 1906, arrasando as dependências das antigas oficinas e deixando-as em estado de ruína, no qual se encontram até os dias de hoje. No entanto, a perspectiva da adoção de medidas de musealização e preservação ferroviária no município de Ribeirão Vermelho, implantadas nos últimos dez anos, parecem trazer luz ao fim do túnel, possibilitando perspectivas de salvaguarda, recuperação e restauro das centenárias oficinas de volta a seu estado original.

Fonte: Márcio Salviano Vilela - Sobre Trilhos - 1998 / Ementários da História de Ribeirão Vermelho - 2003 / Marcelo Teodoro de Oliveira / João Marcos de Souza Pinheiro

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Alessandro de Castro Alonso